segunda-feira, 18 de julho de 2016

O DESENHO INFANTIL COMO INSTRUMENTO DIAGNÓSTICO



O desenho enquanto instrumento avaliativo é utilizado como perspectiva de traspassar a barreira da visão aparente para enxergar aspectos que apontem certas necessidades do indivíduo. Uma análise mesmo que superficial sobre a utilização do desenho como instrumento clínico levará a uma abordagem sobre o inconsciente.

       O desenho como instrumento clínico não deve ser visto como uma expressão artística, que se atenha às questões de plasticidade. Mas, com o propósito de avaliação tendo o objetivo de colher informações sobre como uma pessoa vivencia a sua individualidade em relação aos outros, também para facilitar a projeção de elementos da personalidade e áreas de conflitos. Segundo Harris (1981), o desenho é útil para o estudo da personalidade ou como meio de diagnóstico na avaliação clínica, e se fundamenta na teoria na psicologia da imagem de si mesmo, assim como na teoria psicanalítica da projeção.

Dessa maneira, um desenho de uma figura humana, por exemplo, além de projetar uma imagem corporal, também projeta uma gama de informações relacionadas ao autoconceito, como: a imagem ideal do “eu” e as atitudes para com os outros. Consequentemente o desenho pode ser uma expressão consciente, mas pode também incluir símbolos disfarçados e fenômenos inconscientes.

Portanto, o desenho é um instrumento de linguagem autêntica, uma vez que capta conteúdos inconscientes, sem a intervenção de quem está desenhando. Porém, mesmo que a pessoa busque intuir que algo do seu interior, do seu eu, irá tornar-se conhecido, não terá controle sobre o que será exposto. Nesse ponto, Nasio (1993, p. 79) argumenta que “toda linguagem é uma linguagem exposta à emergência dos efeitos do inconsciente”.

O desenho comunica por meio do inconsciente aquilo que, por cautela ou por autocensura, o seu autor não se permite verbalizar. Logo, tudo que o indivíduo diz, faz, escreve ou desenha é uma projeção do seu EU, ou então, são fragmentos de si mesmo. E até mesmo a recusa ou discurso de que não sabe desenhar, pode sugerir uma preocupação com a aparência do desenho, uma preocupação com a perfeição, mas, na realidade significa resistência, que é um mecanismo de defesa, o receio de se projetar. Segundo Van Kolck (1984, p.10), “casos de rejeição em graus diferentes de intensidade, a partir da negação a desenhar até o não complemento do desenho”.

A resistência é um ato aparentemente consciente, porém de origem inconsciente, é mais constante quando se trata de figura humana, pois entre os desenhos é o mais realizado. Essa resistência ou rejeição está associada ao nível de desajustamento do sujeito, uma vez que evidencia as dificuldades, as relações interpessoais e a consciência corporal, o que não acontece com outros tipos de desenhos como a casa ou árvore, embora estes também revelem muitas informações sobre o sujeito.

Van Kolck (1984) diz que além da projeção, outros mecanismos podem se manifestar, como: identificação e introjeção. No entanto, a expressão e adaptação são os dois processos que ocupam lugar de importância assim que o desenho é concretizado.

O mecanismo de expressão refere-se à análise do estilo característico da resposta que se mostra por meio gráfico da forma. Enquanto que a adaptação diz respeito à adequação à tarefa solicitada, e sua respectiva correspondência com a faixa etária, sexo e eventual patologia. Lembrando ainda que, o mecanismo de caráter projetivo verifica as situações e objetos que denotam conteúdo e maneira de tratar o tema.

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